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sábado, agosto 29, 2009

De Obikwelu a Jacque: O que faz um atleta regressar às competições

Depois de ter anunciado nos Jogos Olímpicos de Pequim que iria terminar de imediato a carreira, Francis Obikwelu voltou atrás na sua decisão e irá correr "pelo menos até ao final dos Europeus de 2010, em Barcelona", segundo o próprio atleta.

No entanto, esta situação não é de estranhar, se tivermos em conta que existem dois fortes motivos para o atleta continuar a competir.

Primeiro, Obikwelu tem um contrato com o Sporting que o "obriga" a participar em provas nacionais e internacionais até Setembro de 2009. Depois, o atleta foi recentemente vítima de burla por parte do seu ex-gestor de conta do Millenium BCP, Nuno Gonçalves.

Gonçalves era amigo pessoal do atleta português, que lhe emprestava por várias vezes a casa (em Albufeira) e o carro. No entanto, o "amigo" desviou 60 mil euros da conta de Obikwelu entre 2005 e 2008, situação que só agora foi descoberta pelo próprio banco.

Entretanto, o velocista não fez queixa à polícia e à imprensa portuguesa apenas disse que "queria esquecer rapidamente o assunto".


Mas, Obikwelu não é caso virgem no desporto nacional e internacional. Muitos atletas decidem acabar com a sua actividade desportiva por alguns "azares" ou, simplesmente, por quererem mudar de vida.

No entanto, quase todos acabam por regressar, uns por problemas financeiros, como é o caso de Obikwelu, outros porque o "bichinho" do desporto é mais forte.

Nas linhas seguintes, vamos apresentar casos de atletas que a dada altura acabaram com as suas carreiras, mas que regressaram às competições, por diversos motivos


CARLOS CALADO

O saltador português (Salto em Comprimento e Triplo Salto) começou a carreira aos 14 anos nas camadas jovens do Sporting.

O momento alto da carreira do atleta aconteceu em 2001, quando Calado trouxe para Portugal, duas medalhas de bronze conquistadas nos Campeonatos do Mundo ao ar livre (em Edmonton, Canadá) e em pista coberta (Moscovo, Rússia).

Em 2002, sai do Sporting aborrecido por os dirigentes leoninos não lhe quererem aumentar o vencimento, e ingressa no Benfica, onde foi bastante mal sucedido.

Numa competição, Calado lesiona-se com alguma gravidade e o clube encarnado despede-o logo de seguida alegando incumprimento de contrato, pois o atleta tinha assinado um vínculo por objectivos, onde estava escrito que deveria representar o emblema da Luz "pelo menos, em 5 provas durante um ano", e na altura, Calado apenas tinha cumprido duas competições e teria que estar no "estaleiro" pelo menos 9 meses, tendo ainda que esperar mais uns meses para voltar a adquirir a forma física.

Perdendo a paixão pelo Atletismo, Calado decide pôr um ponto final na sua carreira e lança-se no "mercado de trabalho", passando a laborar numa imobiliária em Alcanena.

No entanto, o "bichinho" das competições ficou sempre e o atleta português não deixava de pensar nisso um só dia, tendo às vezes que sentar-se "a ver se esses pensamentos passavam", como o próprio admitiu em recente entrevista.

Actualmente com 33 anos, Carlos Calado voltou ao activo depois de um convite do seu amigo e treinador, Miguel Caldas.

Caldas, técnico do Sporting, não tinha saltador para representar os "leões" no Campeonato Nacional de Clubes, e convidou o antigo atleta a fazer uma "perninha".

Os resultados de Calado foram tão bons, quer no Nacional, quer nos mettings regionais onde competiu, que o atleta resolveu voltar às competições ao mais alto nível, sendo um dos atletas que faz parte do plantel do Sporting para 2010, tal como Obikwelu, Naide Gomes e Rui Silva.


MANUEL ZEFERINO

Manuel Zeferino foi um dos maiores ciclistas portugueses, tendo feito a sua carreira entre os anos de 1975 e 1992.

Venceu a Volta a Portugal em 1981, conquistando a Camisola Amarela na 1ª Etapa e nunca mais a largando. Para além desta vitória, o ciclista conseguiu acabar 8 edições da prova-rainha do ciclismo português no Top 10.

Depois de abandonar as bicicletas, Zeferino tornou-se Director Desportivo da Maia-MSS, onde venceu 4 Voltas a Portugal, uma Volta a Valência, uma Volta às Astúrias e ainda um 2º lugar na Volta à Polónia e um 3º por equipas na Volta à Espanha.

Após dias de verdadeira glória, a vida de Zeferino ficou assombrada por dois acontecimentos no mínimo trágicos, um caso de doping, que meteu a polícia pelo meio e a morte de Bruno Neves em plena competição.

Desiludido com o mundo do Ciclismo, o antigo atleta decide retirar-se para "descansar a cabeça, o corpo e o espírito", como referiu na altura.

Três anos depois, e com vários problemas financeiros agravados pelas multas e indemnizações que teve que pagar por causa do "escândalo Maia" (o referido caso de doping, ainda por esclarecer), Zeferino decidiu regressar às competições, participando na Volta Masters, que não é mais do que uma Taça do Mundo de Ciclismo para antigos atletas.


NIGEL MANSELL

Depois de ter sido várias vezes campeão do Mundo de Fórmula 1, o piloto inglês Nigel Mansell abandonou as corridas em 1999, para se dedicar mais à família e aos amigos.

Actualmente, com 51 anos, o ex-campeão vai voltar às pistas para disputar o Campeonato Le Mans Series, ao comando de um Ginetta-Zytek.

Não foram problemas financeiros ou o "bichinho" das competições à chama-lo de novo às emoções de uma prova automobilística, mas sim os seus filhos, Greg e Leo, e o amigo Lawrence Tomlinson.

O piloto britânico vai fazer equipa com Greg e Tomlinson, enquanto Leo estará aos comandos de um Ferrari juntamente com os filhos de Stefano Moddena.


MICHAEL PHELPS

Depois de ganhar 8 medalhas de Ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, o super-nadador Michael Phelps anunciou a sua retirada das competições, por sentir que não havia "mais nada para ganhar".

Porém, o sucesso mediático que atingiu nas olimpíadas obrigou o atleta a reconsiderar a sua decisão, pois se respondesse negativamente às ofertas milionárias dos publicitários acabaria por perder muito dinheiro.

De facto, Phelps acabou por perder dinheiro, não por ter recusado a sua participação nas campanhas de publicidade, mas sim por ter sido apanhado a fumar droga através de um cachimbo de água, o que lhe valeu uma suspensão desportiva de 6 meses.

Além disso, o nadador teve que pagar uma fiança de largos milhares de dólares para não ser preso, pois no Estado da Califórnia quem for apanhado a fumar droga é condenado a uma pena de prisão efectiva não inferior a 1 ano.

Actualmente, Phelps participa em programas de televisão e em eventos desportivos, de modo a limpar o seu nome e a tentar recuperar o dinheiro que perdeu por uma "brincadeira estúpida", segundo o próprio.


MARTINA NAVRATILOVA

Desde muito cedo, que Martina Navratilova se tornou na jogadora mais mediática do circuito WTA, não pela beleza e espectacularidade do seu jogo, mas sim por situações caricatas protagonizadas pela própria.

A tenista nasceu em Praga (na Rep. Checa, antiga Checoslováquia), mas depois de perder um torneio realizado na sua terra natal, e ainda por cima com uma compatriota, a jogadora decidiu naturalizar-se norte-americana por já estar "farta de checos".

Para além disso, Navratilova assumiu desde cedo a sua homossexualidade, e até chegou a contratar a treinadora Renée Richards, que antes da operação para a mudança de sexo, chamava-se Richard Raskind, também ele (ou ela) um(a) grande jogador(a) de ténis.

Aos 38 anos, a naturalizada norte-americana retira-se do circuito, mas alguns problemas financeiros fazem-na regressar 7 anos depois, para realizar algumas partidas de pares e também para "limpar" um pouco o seu nome.


KIM CLJSTERS E LINDSLAY DAVENPORT

A belga Kim Cljster e a norte-americana Lindslay Davenport fizeram as delícias dos amantes do ténis no início do ano 2000, ao ganharem vários torneios importantíssimos.

No auge das suas carreiras, decidiram abandonar os courts para se dedicarem a tarefa de ser mãe a tempo inteiro.

A decisão de ambas as jogadoras causou polémica na altura, mas tanto a belga como a norte-americana estavam dispostas a seguir em frente com a ideia.

Em finais de 2008, as atletas voltaram à competição por não se sentirem bem com a forma como abandonaram os courts há 8 anos atrás, lançando novamente a alegria aos seus fãs, que nunca aceitaram de bom grado que as tenistas substituíssem os potentes serviços pela mudança de muitas fraldas.


LANCE ARMSTRONG

Depois de ter sido um ciclista mediano durante largos anos, Armstrong foi obrigado a abandonar as competições oficiais na altura em que lhe foi diagnosticado um cancro nos testículos.

Assustado, como qualquer pessoa ficaria nestas situações, o americano tratou logo de se curar o mais rapidamente possível.

Foram 4 anos de uma dura batalha, mas felizmente o ciclista saiu vencedor e resolveu voltar às competições para "saborear a vida".

Além de saborear a vida, o "novo" Armstrong venceu 7 Tours de France (recorde que ainda ninguém conseguiu bater) e mais algumas provas velocipédicas importantes.

Apesar de ter estado parado no ano 2008, o norte-americano voltou em força este ano, e a provar isso está o excelente 3º lugar na sua 8ª participação na Volta à França.


MARIA SHARAPOVA

Após ter sido reconhecida pela imprensa internacional como a mulher mais sexy do Mundo em 2007, a popularidade da já famosa Maria Sharapova subiu em flecha.

A certa altura, os seus dotes físicos passaram a ser mais importantes que as suas maravilhosas jogadas, e os adeptos do ténis temeram que o abandono dos courts fosse uma mera questão de tempo.

Realmente, Sharapova esteve afastada das competições durante 1 ano, não para se dedicar à moda, como fez Anna Kournikova, mas devido a uma arreliadora lesão no ombro direito.

A tenista russa, conhecida como "Misha" devido ao nome da mascote dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980 (data do nascimento de Sharapova), voltou aos courts no mês passado, não tendo sido feliz na re-estreia, pois viria a perder na 2ª Ronda do Open de Toronto.


RENE HIGUITA

O excêntrico guarda-redes Rene Higuita, que sofreu o golo mais estupido de uma fase final de um Campeonato do Mundo, quando quis driblar um adversário no meio-campo sem estar ninguém entre ele e a baliza, levando um chapéu de todo o tamanho, jogou até aos 32 anos, altura em que resolveu abandonar a carreira para fazer uma... operação plástica.

O jogador esteve vários anos "desaparecido", mas recentemente anunciou que iria voltar aos relvados para ajudar uma modesta equipa da 2ª divisão da Colômbia e, principalmente, para mostrar a sua nova cara ao Mundo, que está mais clara, mais firme e sem as várias imperfeições que o atleta apresentava.


OLIVIER JACQUE

O motociclista francês Oliver Jacque foi uma estrela do Campeonato MOTO GP no ano 1999, antes de aparecer um senhor chamado Valentino Rossi.

O piloto francófono ficou tão irritado com o aparecimento de novas "estrelas", como Rossi, Stoner, Pedrosa ou mesmo Doohan, que resolveu "sair de cena" o mais rapidamente possível, deixando o director da sua equipa (Kawazaki) à beira de um ataque de nervos.

Mais a frio, Jacque viu que a sua atitude não tinha sido das melhores, pois a renovação de talentos acontece em qualquer desporto, e pediu desculpas publicamente tendo sido recompensado em 2007, com o convite da marca japonesa para fazer algumas corridas do campeonato MOTO GP.


MARTINA HINGIS E MICHAEL SCHUMACHER

Quem esteve quase a regressar ao activo, mas ficou-se pela "porta de entrada" foi a tenista suíça Martina Hingis e o piloto alemão Michael Schumacher.

Hingis foi nº1 do ranking WTA aos 16 anos, mas depois entrou em declínio e, em 2005, acabou por ser suspensa por 2 anos devido a um controlo anti-doping positivo (consumo de cocaína).

Em 2008, falou-se do regresso da talentosa jogadora, mas em conferência de imprensa a suíça revelou já "não ter forças para o regresso".

Quanto ao alemão hepta-campeão do Mundo de Fórmula 1, esteve com um pé na Ferrari (para substituir o acidentado Filipe Massa), mas as frequentes dores nas costas levaram Schumacher a adiar o seu regresso às pistas de automobilismo, que está marcado para Março de 2010 se até lá as costas do piloto deixarem.


Jornalista: João Miguel Pereira